Cultura Indigena

A origem do Milho – sacrifício como alimento.


Kaka Wera
 
Existem duas versões da formação da cultura Tupi nesse mito. As duas versões falam de um dilúvio. Falam de águas que inundaram uma antiga morada, um antigo lugar.  

O que essas duas versões têm de igual é o dilúvio , lembra Kaká Werá.

Em uma dessas versões, escapam, inicialmente duas pessoas, que se agarram ao tronco de uma palmeira. Então, a palmeira salva essas duas pessoas. Um deles é chamado Tamendonari, o outro, Sumé.
Na outra versão, uma roda de fogo é colocada como uma canoa de fogo que voa. Assim, não são apenas dois que se salvam, mas outros também. Eles são retirados daquele lugar e vão parar num local que hoje seria onde é Amazônia, próximo ao Acre - geograficamente demarca o início da civilização Tupi.
Nessas duas versões existem essas diferenças, cantadas ainda em algumas regiões, e falam a história da palmeira que salva essas duas pessoas. E, que quando chegam naquele lugar, são acolhidos por uma tribo local, pelo povo local. É aí que eles se misturam com esse povo e formam uma outra raça, uma outra cultura.
Os que chegam são chamados Tupanos, que é de onde vem Sumé, Tamendonari. E os que estão aqui, que já habitavam essa região são os Guarani, filhos de Guarantã. E dessa união de povos é que se forma a nação Tupi-Guarani.
Essa é uma história que é meio mítica, mas para alguns estudiosos, alguns observadores, esse é um acontecimento que realmente ocorreu há milhares de anos atrás.
O que se confunde com o mito é essa parte da história da chegada naquela região. Quando chegam lá, a terra estava passando por uma situação de calamidade, porque não existia mais alimento, caça, pesca. A tribo local passava fome.
Aí, um cacique, preocupado porque, não só sua família, mas toda a comunidade já estava correndo risco de extermínio, se recolhe à sua oca e pergunta, pede ajuda a Tupã, uma vez que Tupã já que o tinha salvo do dilúvio da morada anterior. Ele pergunta a Tupã como ele deve fazer para que a tribo não seja dizimada. E, Tupã, então, fala para ele se enterrar vivo, que faça um buraco, se coloque lá dentro, peça para ser enterrado e que, a partir dele será gerado um alimento que servirá a toda a tribo e a todas as gerações futuras.
Ele aceita fazer esse sacrifício. Então é aberta uma cova, ele é enterrado vivo e naquele local onde ele é enterrado nasce o primeiro pé de milho, o primeiro awati, como o milho é chamado na língua Tupi.
Para vocês terem uma idéia, a palavra awati, awa , que significa ser, espírito e ti , que é um sufixo que indica algo precioso, uma preciosidade traduz como o milho é chamado até hoje: um ser precioso, awati.
No mito, então, o espírito de Sumé se transforma num sol e o corpo dele, o corpo físico, transforma-se no pé de milho, nas raízes dele. Mas seu espírito se transforma num sol e ele se torna o mentor, o espírito-mestre, o condutor de todo o nosso povo de lá para cá, de toda a raça Tupi.
Seu espírito transforma-se em sol no sentido de adquirir uma expansão espiritual. E também por isso vai para o sol. A tradição Tupi considera um mundo original, chamado Araima, o próprio sol, não só físico, mas como um mundo original. Então, ele ruma para o sol.
Enfim, a história é essa. Há uma parte mitológica e uma parte tida como real.