Antroposofia e a missão dos povos

Palestra de Marilda Milanese sobre o Beija-Flor para o Grupo Pindorama em 18/05/2008 

O motivo que levou a esta pesquisa foi o Congresso de San Diego, em 1999 – “Entre a Águia e o Condor”.

Na busca da imagem de uma ave que simbolizasse a América Latina surge a pergunta: “qual é a terceira ave?” E Marilda e Ute “descobriram” o Beija-flor.

Num ciclo de palestras que fala dos elementais e animais, Rudolf Steiner fala dos animais que têm os sistemas rítmico, metabólico, ou neuro-sensorial unilateralizado. No caso das aves é o neuro-sensorial.

Em contraposição temos na vaca a representação do excesso das forças metabólicas aberto para a terra. No leão, o sistema rítmico.
“A formação das plumas no plano físico se deve às mesmas forças que, no astral, ocasionam a formação dos pensamentos” (Rudolf Steiner - Sinfonia da Palavra Criadora). “Pode-se perceber quando se pensa como uma águia ou como uma coruja.”

“Atividade formativa do ar e luz atuando interiormente no plano astral, no sistema nervoso humano formam os pensamentos do momento imediato.”

Este relampejar do pensamento instantâneo também está em João Guimarães Rosa: “Somente o cintilante instante sem passado nem futuro: o beija-flor.”

Nomes:
        Beija-flor
        Colibri: do caraíba: área resplandecente (francês / alemão)
        Guainumbi: pássaro cintilante
Família: TROCHILIDAE
        FENOMENOLOGIA – Livro Ornitologia Brasileira – Helmut Sick – Ed. UnB

Exclusivamente americanos; 320 espécies, o maior número de espécies encontra-se na área do Equador / Colômbia. Espalham-se por toda a América, do Alasca, ao Norte, até a Patagônia, ao Sul (Terra do Fogo). Desde o nível do mar até 5.000m de altitude (Andes).

Forma / tamanho
        Peso: desde 1,8g (Lophornis -Brasil) até 21g (como andorinha), o da         Patagônia(Patagônia gigas).
        Maior espécie brasileira: Topaza pella (13 a 18g) – Amazônia.
        Tamanho relativo do coração é muito grande: 19,8% a 22% do peso total. No pardal é 13,9% e no homem é 0,5%. Um quarto ou até um terço do peso é musculatura de vôo.
        Pés: pequenos com unhas afiadas agarram-se bem a galhos finos, mas não servem para andar, exceto uma espécie andina que se movimenta pulando.
        Cores: tons metálicos resultam da difração e reflexão da luz (como uma jóia). Daí o nome Colibri / Guainumbi.
        Plumagem difere em machos e fêmeas. Os machos adquirem plumagem nupcial na época do acasalamento (mais colorida e brilhante). Também percebem as cores das flores onde está a sua fonte de alimentação: néctar e insetos.

Um Hyllocharis de 3g consumiu em 1 dia (16 horas) 22g de água com açúcar: 73% do se peso e 677 Drosophilas (mosca das frutas): 0,8 g ou 27% de seu peso, consumo total diário de 25g, isto é, 8 vezes o seu peso.

Preferem flores com néctar diluído (média de 20%) enquanto abelhas preferem de 70% a 80% = menor concorrência entre eles.

Conjunto língua / boca funciona como bomba de aspiração, absorve o líquido o mais rápido possível, pois bebe em vôo de libração. Às vezes furam o tubo da flor pelo lado de fora. São altamente sensíveis / perceptíveis às cores das flores preferidas. Outra fonte de açúcar são os pulgões.

O Beija-flor precisa de muita energia para se movimentar.
Realiza polinização das flores enquanto se alimenta. Tem uma relação especial com as Bromeliáceas e Musáceas (Heliconia) parecem ter co-evolução evidente.

Vôo
Voam para frente e para trás, para os lados, para cima e para baixo. Podem parar como um helicóptero: vôo pairado ou librado. Ocorre até vôo de libração à ré, em ascensão. Não fazem vôo planado.

Bater asas: freqüência maior nas espécies menores: até 80 batidas/seg. no Calliphlox e por volta de 50 nos Phaethornis que produzem som de insetos como besouro ou abelha mamangaba.

Velocidade: os pequenos fazem de 47 a 74 km/h. Velocidades maiores em perseguições e vôos nupciais (de acasalamento).
Hábitos: São territoriais. Defendem agressivamente seu alimento como uma planta florida ou garrafa de água com açúcar. A fêmea defende agressivamente a área do ninho.

Banho: banham-se na chuva (é possível ver até 10 pousados num fio elétrico num dia de chuva) e nas folhas molhadas por orvalho e chuva. Atravessam voando respingos de cascata e/ou de regador de grama. Gostam de banho de sol para se aquecer.

Som: Cantos diversos nas diferentes espécies, geralmente em freqüências muito altas, o que dificulta a apreciação. Às vezes se percebe que cantam pelo movimento da mandíbula e garganta. Às vezes fazem música instrumental (bater da mandíbula ou asas).
Hibernação

Caem em sono letárgico / torpor com o frio: mágica metabólica.
- temperatura do corpo no torpor iguala-se à do ambiente.
- durante a atividade diurna é de 40 a 42ºC
- só pode voar se a temperatura do corpo estiver em 38 a 39ºC

Pulsação em espécie relativamente grande do México:
480/min. no repouso
1260/min. em atividade
36/min. no sono letárgico

Deslocamentos / Migrações
Numa experiência voltaram de Vitória (ES) à Santa Teresa (diferença de 700m de altitude e 85 km de distância) em 2 horas e meia = velocidade de 34 km/h.

Deslocam-se por longas distâncias e diferentes altitudes.
Migração nas Serras da Mantiqueira e do Mar: espécies que vivem na primavera verão em altitudes de 700 a 1400m baixam no outono. Aparecem em Rolândia (PE) na primavera/verão e desaparecem no outono / inverno. Foram encontrados nas Ilhas Juan Fernandes no Chile, a 667 km da costa, portanto, de vôo sem parada.

Acasalamento
Machos adquirem plumagem especial para a época. O macho canta para chamar atenção das fêmeas e depois executa vôos nupciais (muito rápidos, difíceis de apreciar). Em algumas espécies macho e fêmea executam vôos conjuntos em ziguezague. Além do canto os machos emitem sons de estalidos e zumbidos (a música instrumental).

Procriação
Depois do acasalamento, o resto é por conta da fêmea. Ela constrói o ninho, choca os dois ovos e alimenta os filhotes.
Ninho: 3 tipos

A maioria das espécies: forma de tigela sólida, feita de paina de gravatá e fiapos de xaxim atapetados externamente por fragmentos de folhas, musgos e liquens colados por teias. Topaza fabrica massa cor de rosa elástica como borracha, como dos andorinhões, usando fibras lanosas de samambaia misturada com saliva, néctar regurgitado ou seiva adicionado de teia de aranha.

Espécie Ramphodon, Glaucis e Threnetes: ninhos alongados terminando num apêndice caudal para dar equilíbrio, suspensos numa folha de palmeira ou Heliconia. São feitos de raízes finas, fibras e até crina resultando num reticulado fino através do qual se vêem os ovos. Deixa passar a água da chuva.
Phaethornis: forma cônica alongada como o anterior mas feito de material macio como paina e outros detritos vegetais formando espessa massa de material. São suspensos na face inferior de folhas de samambaias, palmeiras e musáceas ou em raízes finas pendentes sob barrancos sombreados, ou até mesmo em fios elétricos pendentes no interior de casas abertas.

A fêmea coloca 2 ovos alongados do tamanho de um feijão branco, mas que são grandes em relação ao tamanho da mãe: ovo de 0,42g para fêmea de 3g.
- incubação de 12 a 15 dias, dependendo também das condições meteorológicas.
- filhotes alimentados com passa pastosa regurgitada pela mãe. Nos primeiros dias comem 90% de insetos e 10% de néctar. A proporção de néctar vai aumentando depois do 10º dia até inverter para 90% de néctar e 10% de insetos.
- deixam o ninho em 3 semanas (21 dias) em média.
- Vivem de 5 a 8 anos.

Parasitas / inimigos
- moscas-bernes parasitam severamente os filhotes.
- marimbondos competem e podem ferroar mortalmente.
- cobras e lagartixas comem os ovos.
- gaviões pequenos, bem-te-vis, gatos e cobras caçam beija-flores ocasionalmente.
- foram capturados aos milhares no século XIX para a moda de vestidos e chapéus de senhoras na Europa. Em 1905 foram utilizados 8.000 beija-flores num manto de mulher. Hoje o uso indiscriminado de agrotóxico (principalmente nas plantações de abacaxi, cuja flor é um dos alimentos preferidos dos beija-flores) é a principal ameaça a eles, cuja conseqüência é a destruição dos habitat (ecossistemas).

Lenda do Mainumbi – Livro: Valorizando o Índio, p. 20
Ave, palavra: História de Fadas: Conto de Guimarães Rosa (anexo)

Descrição do tipo
Tudo correto no Rosa

Desligar-se da Terra = Desafio do chamado unilateral da Águia: “Criar um mundo em sua própria cabeça”.

Comentários após a palestra de Marilda Milanese em 18/05/2008
- na nota de um real há um colibri
- na nota do dólar, uma águia
- no dólar canadense, um patinho.
Ute Craemer retoma para reflexão/debate:
- o que é pensar como coruja, águia e, no caso do Brasil, o que é pensar como colibri?
Marilda levanta as características:
- versatilidade (vai desde a hibernação até os 1260 pulsos cardíacos)
- coração = é um “bicho do coração”; “cabeça-coração”
Rudolf Steiner diz que através de nossos pensamentos espiritualizamos as coisas, mas isso envenena a terra e as aves “pagam nossa dívida”, levando para o mundo cósmico esta espiritualidade que fica em sua plumagem.
Pensar como colibri = pensar com o coração
= leveza de pensamento, diferentemente da águia, que é uma ave de rapina.
Foram contados/comentados pelos participantes alguns mitos sobre o colibri:
- um mito guarani, que mostra o colibri como um mensageiro entre céu e terra
- um mito peruano / colombiano chamado “Em Ti” , no qual os pássaros pedem cor para o Sol, as cores são o Sol “em ti”, no caso do colibri há várias cores
- um conto alemão, que diz que Deus mergulhou o colibri em todas as cores, porque como ele era o menor dos pássaros estava esperando, por último, ser pintado por Deus.